Em exatos 28 dias, Mark Zuckerberg terá uma importante tarefa: subir ao palco do evento principal da F8, a Conferência do Facebook para Desenvolvedores, e falar sobre o uso indevido de dados pessoais que são processados todos os dias pela rede social. Acredito e entendo a necessidade de uma mudança na questão do uso das informações dos usuários pela rede, porém, existirão outros anúncios que não poderão ficar à margem. Um deles está relacionado ao Building 8.
Na semana passada, publiquei um artigo sobre a morte dos smartphones, em que falo sobre como surgiu essa hipótese e sobre as possibilidades de substituirmos nossos telefones inteligentes por tecnologias ubíquas.
Entre as empresas que trabalham em novas técnicas de comunicação, está o Building 8, um laboratório de pesquisas do Facebook que, entre outras coisas, desenvolve tecnologias capazes de fazer você digitar com o “pensamento” e ouvir com a sua pele.
O que é o Building 8?
A primeira vez que ouvi falar sobre tais técnicas disruptivas, foi justamente em abril do ano passado, durante a conferência F8. Na época, a equipe liderada por Regina Dugan, anunciava o progresso no desenvolvimento da própria interface cérebro-computador, capaz de reconhecer a formação do discurso e comunicá-lo a uma máquina, com o objetivo de enviar mensagens de forma muito mais rápida do que a que temos hoje, quando digitamos em nossos smartphones, por exemplo.
De acordo com uma publicação de Mark Zuckerberg, a ideia deste projeto é tornar possível o envio de “pensamentos”, como temos com fotos e vídeos:
Nosso cérebro produz dados suficientes para transmitir quatro filmes em HD a cada segundo. O problema é que a melhor forma de nos comunicarmos com o mundo exterior – através do discurso – é capaz de transmitir apenas o mesmo volume de dados de um modem de 1980. Nós estamos trabalhando em um sistema que vai lhe permitir digitar direto do seu cérebro, algo cinco vezes mais rápido do que você pode digitar em um smartphone hoje. Eventualmente, queremos transformar isso em uma tecnologia vestível que poderá ser fabricada em grande escala. Mesmo um simples clique como “sim/não” ajudará a fazer com que coisas como a Realidade Aumentada sejam muito mais naturais.
Entre os dias 1 e 2 de maio deste ano, quando ocorre então a conferência para desenvolvedores do Facebook, espero ver a evolução deste projeto. Em 2017, a expectativa era entregar este ano um sistema que permita “digitar” 100 palavras por minuto em um computador, apenas pensando naquilo que se quer dizer.
Contudo, você deve ter percebido que no corpo deste artigo usei a palavra pensamento entre aspas, certo? O motivo disso é que o Facebook não pretende saber o que você pensa, mas usar um sensor não invasivo capaz de se comunicar com a parte do cérebro que forma o discurso.
Ou seja, não estamos falando do processo de pensamento daquilo que se deseja comunicar, mas, assim como digitamos uma mensagem com as mãos, a formação destas palavras com o objetivo de construir uma frase.
Tem como separar a rede social da empresa Facebook?
Em março deste ano, o jornal britânico The Guardian revelou que informações de 87 milhões de norte-americanos foram acessadas sem consentimento pela empresa de marketing e análise de dados Cambridge Analytica. O acesso ocorreu em 2016, durante a campanha presidencial que elegeu Donald Trump.
De posse destes dados, a Cambridge Analytica distribuía conteúdos personalizados para grupos específicos de eleitores. Para além disso, mentiras, boatos, fake news, vídeos apelativos, correntes e outras técnicas foram usadas para persuadir tais pessoas a votar em Donald Trump.
Em janeiro de 2013, terminei minha conta no Facebook e, desde então, não possuo um perfil pessoal na rede social. Contudo, na época, descobri que você não pode realmente excluir os seus dados, eles permanecem armazenados e, pior do que isso, caso você acesse algum serviço antes relacionado a sua conta na rede social, o seu perfil é reativado. Logo, tive que “deletar” minha conta inúmeras vezes e ainda terei que o fazer no futuro por conta disso.
A rede social Facebook é uma empresa de venda de dados/comportamento e espaço para propaganda, não tenha dúvidas quanto a isso. Porém, serve como um produto de atalho para a comunicação entre as pessoas e foi fundamental para a globalização da informação, bem como outras redes, como o Twitter.
Assim, esperar que novas tecnologias de comunicação cheguem através dos engenheiros e desenvolvedores da empresa Facebook é inevitável. Google, Apple, Neuralink, Microsoft, Samsung e outras gigantes do mercado estão investindo neste tipo de pesquisa também, e é assim que vai ser pelos próximos anos.
Desta forma, sem tirar o mérito das críticas em cima da atitude do Facebook, penso que prestar atenção naquilo que veremos na apresentação da Building 8 durante a F8 é extremamente relevante para saber para onde estamos indo quando o assunto é comunicação e tecnologias ubíquas. Aliás, é fundamental que fiquemos alerta neste momento em que novas tecnologias estão surgindo, pois assim, talvez, possamos colocar mais valor naquilo que compartilhamos com serviços como a rede social Facebook na tentativa de evitar um novo “Cambridge Analytica Gate“.
Que venha o F8 2018!