Desde o escândalo da Cambrigde Analytica, Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, teve duas grandes chances para apresentar melhores soluções de privacidade aos usuários da rede social. Uma delas foi durante a audiência no Senado dos Estados Unidos, a outra foi hoje, no palco da F8. Infelizmente, em ambas as ocasiões, vi apenas desculpas.
Durante a apresentação principal da Conferência para Desenvolvedores do Facebook, a F8, Zuckerberg disse que a maior preocupação da empresa agora estava no usuário, que o objetivo é colocá-lo no centro da experiência. Afirmou ainda que o DNA da rede social é ajudar as pessoas a se aproximarem e se relacionarem.
Contudo, este é o discurso de sempre. Faz três anos que acompanho o F8 e preciso dizer que, até hoje, nunca vi algo focado no bem-estar do usuário chegar à plataforma. Não me leve a mal, o Facebook está evoluindo, cada vez mais funcionalidades são adicionadas à rede social e mais útil esta se torna para quem a usa. Entretanto, precisamos levar em consideração que essa utilidade chega antes mesmo de nos darmos conta de que precisávamos dela.
Em determinado momento, Zuckerberg falou aos desenvolvedores presentes no evento que existe um foco muito grande nos aplicativos, e que eles deveriam olhar mais para as pessoas. O curioso foi ver que, apesar da palavra “usuário” estar na boca de todos os diretores de produto que subiram ao palco da F8 hoje, ouvimos muito sobre aplicativos: Facebook, Instagram, WhatsApp, Messenger…
Depois de copiar o Snapchat e trazer o recurso “stories” para todos os seus produtos, agora foi a vez do Tinder, o aplicativo de encontros, ser plagiado pela equipe de Zuckerberg. No palco, a desculpa para oferecer o “Tinder do Facebook” foi, claro, o usuário e a preocupação em criar um espaço para relacionamento. Mas não se engane, essa é só mais uma estratégia do Facebook para mantê-lo mais tempo dentro do aplicativo e, assim, gerar mais lucro através de propaganda.
Afinal de contas, como vimos Mark Zuckerberg afirmar durante a audiência no Senado dos EUA: o Facebook faz dinheiro com publicidade!
Porém, nem tudo que se falou deve passar batido. Existem duas novidades que podem vir a frear a coleta de dados dos usuários pelo Facebook.
Limpeza do histórico de navegação Off-Facebook
Mark Zuckerberg quase convenceu na ingenuidade do seu rosto quando apresentou o novo recurso que irá permitir aos usuários deletar o histórico de navegação fora da rede social. O CEO disse que “a função já existe em outros serviços de internet, então por que não trazê-la ao Facebook?”.
Pois é, minha pergunta é por que não tivemos essa função antes? Bom, talvez fossem necessários o vazamento dos dados de 87 milhões de usuários para contarmos com mais opções de segurança, infelizmente.
Logo, os usuários poderão em breve desativar uma das principais práticas de coleta de dados do Facebook: o uso do histórico de navegação web de quem usa a plataforma, que serve para vender anúncios segmentados.
Como se sabe, o Facebook coleta muitos dados, e o mais importante deles pode ser considerado o histórico de navegação dos usuários, aquela lista de sites e aplicativos visitados mesmo quando não se está no Facebook. Isso é possível porque muitos desenvolvedores de sites ou aplicativos usam plugins de software do Facebook, que acabam mandando tais dados de navegação à plataforma.
De posse destes dados de navegação, a empresa pode, por exemplo, segmentar anúncios. É por isso que depois de fazer uma procura por passagens aéreas, todos os anúncios que aparecerão na sua linha do tempo serão relacionados a passagens aéreas.
Porém, agora é possível evitar isso. O novo recurso chamado “Clear History” é uma garantia de que o Facebook não vai poder mais usar tais dados para segmentar anúncios para os usuários. Espera-se que a nova função chegue com a próxima atualização do aplicativo.
Postagens de anúncio mais transparentes
Outro recurso que pode tornar as coisas menos desastrosas é uma ferramenta que já foi usada nos EUA e no Canadá, e pretende deixar as postagens patrocinadas mais transparentes. A chegada desta função é de extrema importância para os brasileiros, visto que tornará a propaganda política no Facebook mais transparente em 2018.
O funcionamento é simples, os usuários poderão acessar o histórico do anúncio nas suas páginas. A ferramenta permitirá saber, por exemplo, quanto foi pago pelo anunciante, o perfil dos usuários atingidos e os números de engajamento da publicação.
Podemos considerar o F8 um elogio ao usuário?
Não. Apesar do discurso de que o Facebook precisa voltar às suas raízes, quando as conexões entre usuários eram o estímulo do desenvolvimento da plataforma, penso que temos que abrir os olhos. O Facebook está usando massivamente os dados dos usuários para gerar lucro, com a desculpa de que o serviço é grátis. Mais uma vez gostaria de lembrar que, se o produto é gratuito, o produto é você!
Com o anúncio do recurso “Clear History”, o cenário mudou, quem não gostaria de excluir sua conta da plataforma por ter que abrir mão de suas conexões, agora conta com uma opção descente. Neste momento, no entanto, caberá aos usuários colocarem um ponto final na coleta de dados pelo rede social.
Aqui vai meu conselho: opte por não compartilhar seu histórico de navegação com o Facebook!