Telefone no Brasil: história, fatos e curiosidades

O telefone fixo está com os dias contados. Aquele que já foi um bem de alto valor no Brasil, símbolo de status social, e item obrigatório na declaração do Imposto de Renda, hoje só serve para acumular poeira e receber ligações indesejadas (de telemarketing ou falecimento).

Segundo estimativa das operadoras de telefonia e do governo, em 2021 o aparelho praticamente já terá desaparecido dos lares, e mesmo em empresas será difícil de encontrar. A base para essa afirmação está na tendência de queda no número de linhas em uso no país.

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Brasil perde mais de 2 milhões de linhas fixas em 2018

O Brasil registrou 38.306.837 linhas de telefonia fixa em operação no mês dezembro de 2018, de acordo com dados da ANATEL. Em relação ao mês anterior, dezembro apresentou diminuição de 250.190 unidades (-0,65%), e nos últimos 12 meses, a redução foi de 2.071.090 linhas (-5,13%). À título de comparação, o Brasil tem quase 232 milhões de linhas móveis em uso.

A queda no número de telefones residenciais em 2017 foi de -4,98%, e em 2016 foi de -3,96%. Ou seja, segue aumentando ano após ano. Seguindo esse ritmo, sobrarão pouquíssimas linhas fixas em 2025.

Coincidentemente (ou não), em 2025 acaba a concessão da telefonia fixa do país. Segundo a atual Lei Geral de Telecomunicações (LGT), essa concessão não poderá ser renovada por Oi e Telefônica, a não ser que a legislação passe por mudanças. Essas alterações são previstas no projeto de lei complementar (PLC) 79, que está parado no Congresso.

Ah! E não podemos esquecer: 2025 é o ano que deve marcar a implantação do 5G no Brasil. Neste momento o telefone fixo já será mais irrelevante que ex-BBB no camarote.

História do telefone no Brasil

O Brasil foi um verdadeiro early adopter das telecomunicações. O primeiro telefone do país foi instalado poucos meses depois da apresentação mundial da invenção, que aconteceu na Filadélfia em 1876.

Em 1877, D. Pedro II não via a hora de poder ligar pra crush Teresa Cristina, e por isso mandou instalar o aparelho do futuro em sua résidance: o Palácio Imperial de São Cristovão, hoje Museu Nacional do Rio de Janeiro (ou o que sobrou dele).

Ter uma linha telefônica residencial continuou sendo privilégio de poucos por décadas, e mesmo nos anos 80, um aparelho desses em casa ainda garantia status na vizinhança. O valor do “bem” era o mesmo que o de um carro zero, pra você ter ideia.

Era mais ou menos assim que as patricinhas contavam os “bafões” prazamigas.

Nos anos 90 as linhas fixas começaram a ficar um pouco mais acessíveis, mas já era um pouco tarde, já que os primeiros celulares começavam a aparecer por aqui – mais uma vez nas mãos da elite.

Eu lembro bem dessa época (sou velho): em 1995 eu estava no ensino médio, e a maioria dos colegas de classe já tinham telefone fixo em casa. Todos éramos de classe média baixa (é classe C que chama hoje em dia?), e quando aparecia o dono da escola com um celular, daqueles que pesavam 1 kg, todo mundo babava.

Gradativamente os celulares foram ficando mais baratos, e os telefones fixos, cada vez menos importantes. Fixos e móveis pessoais coexistiram por um bom tempo no país – entre 97 e 2007 – até que o iPhone iniciou a era dos smartphones, colocando o prego que faltava no caixão do telefone tradicional.

Telefones mais populares através das décadas

Anos 70: verde ditadura militar

Nessa época os telefones ainda não eram tão populares nos lares brasileiros, afinal, ter uma linha era algo bem caro. Desta forma, a maioria dos aparelhos eram de propriedade de empresas e repartições públicas, na época controladas pelos militares.

Sendo assim, nada mais justo que a predominância de um modelo com visual careta, e cores bem “sérias”:

Antigo telefone verde ditadura militar

Anos 80: vermelho e ousadia

Essa foi a década das cores vibrantes na moda e na decoração, e obviamente o telefone não ficou de fora. Não sei se era coincidência, mas a maioria das residências possuía um aparelho vermelho, mesma cor do equipamento presente nos orelhões.

Antigo telefone vermelho pop

Muitos aparelhos diferentões surgiram nessa época (em forma de sapato feminino, concha e até hambúrguer), mas nem todo mundo tinha grana (ou coragem) para comprar.

Anos 90: a era do bege (pra combinar com o PC)

Diversos modelos mais sóbrios de telefones se difundiram durante os anos 90 no Brasil e no mundo, mas nenhum design é mais icônico que o do modelo abaixo, que podia ser encontrado em versões com discador tradicional ou teclado.

Nessa época, a mesa de trabalho padrão nas grandes empresas já contava com um computador pessoal e, como todos eles eram beges com detalhes pretos na época, o aparelho telefônico adotou a mesma combinação.

Antigo telefone bege escritório

Orelhão: decadência sem elegância

Graças aos celulares, o telefone público está ultrapassado em qualquer lugar do mundo, mas em alguns países ele ainda possui um tantinho de dignidade. Na Inglaterra por exemplo, a velha cabine vermelha continua sendo um ícone da cultura pop, e no Japão o equipamento ganhou outras funções, como a de hotspot WiFi.

Infelizmente no Brasil a dignidade passa longe desses equipamentos atualmente: a grande maioria está sucateada, e os poucos que ainda funcionam viraram ponto de divulgação (bastante agressiva) de serviços sexuais. Aqui no centro do Rio de Janeiro, por exemplo, temos um verdadeiro cardápio de belas mulheres – COM PINTOS muito maiores que o seu (se você for homem).

Em alguns bairros mais pobres, os orelhões viraram locais para as pessoas colocarem seu lixo, até que o caminhão de coleta venha buscar.

Orelhão no Rio de Janeiro hoje: mais decadente impossível
Tive que borrar muito essa foto para poder publicar! Desculpa aí!

Talvez você seja muito nov@ para ter usado um orelhão em algum momento da vida, então por isso aqui vai uma rápida explicação de como eles funcionavam: resumidamente, você comprava fichas em bares e bancas de jornais, e utilizava essas fichas para inserir “créditos” no aparelho. Com esses créditos, você garantia um certo tempo em ligações, e quando eles acabavam, a ligação simplesmente caía.

As fichas de metal foram utilizadas até meados dos anos 90, quando foram substituídas pelos cartões de plástico, que estão por aí até hoje. No início dos anos 2000, a variedade de cartões telefônicos era tão grande, que muita gente começou a colecionar.

Antigas fichas e cartões telefônicos
Telemar era o antigo nome da Oi.

Telefone e TV aberta no Brasil: um passado em comum

Os programas de TV aberta no Brasil sempre usaram o telefone como principal meio de interação com o público. Dos anos 70 até os anos 2000, era bem fácil encontrar uma atração onde você poderia participar por telefone, escolhendo o final da história, respondendo perguntas para ganhar prêmios, e até controlando um videogame!

Bora relembrar alguns dos mais memoráveis?

Hugo

Controlar um videogame à distância usando as teclas de numéricas do seu telefone fixo parece loucura? Pois é, na época fazia sentido (e era bem legal!).

Jogo do Hugo na TV era controlado pelo telefone

Fantasia

Fantasia e games pelo telefone nos anos 90

O que pode ser mais cretino do que um programa com mulheres dançando sem parar? Um programa com mulheres dançando sem parar que te cobra para participar por telefone, através de um 0900.

Jogos idiotas e sexismo em doses cavalares: a essência da TV nos anos 90.

Você Decide

Muito antes de “Black Mirror: Bandersnatch”, já existiu um programa de TV onde o espectador poderia escolher o final da história através do telefone. Bom, na verdade, cada espectador dava um voto para o seu final escolhido, e o mais votado ia ao ar.

Nessa época já dava pra ver como o Brasil era conservador e hipócrita, pena que ninguém se lembra.

Você decide o final da história na TV pelo telefone

Telefone e música brasileira: os maiores hits

Durante muito tempo o telefone foi o protagonista das telecomunicações no Brasil, e por consequência seu impacto cultural foi enorme.

Muitos clássicos de diferentes gêneros da MPB usaram o aparelho como eixo central para contar uma história, e abaixo eu listo três canções com esse tema que fizeram muito sucesso no país:

Telefone Mudo – Trio Parada Dura

2345MEIA78 – Gabriel O Pensador

Amante profissional – Erva Doce

E você, ainda tem telefone fixo em casa? Por que ainda não se livrou dele? Conte aí nos comentários!

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Anderson Mansera

Especialista em Tecnologia e Design com mais de 20 anos de experiência no mercado de produtos eletrônicos e soluções digitais, com participação em eventos internacionais e projetos para grandes empresas. Retrogamer e tecladista nas horas vagas.

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