Para a grande maioria, 2017 foi o ano das “telas infinitas”, câmeras duplas e smartphones caríssimos, mas para mim foi um momento para refletir o mercado.
No início do ano, após retornar da minha viagem ao Japão, onde descobri um rico e gigantesco mercado de eletrônicos usados, decidi comprar um Galaxy S5, modelo de 2014, para usar como meu celular principal quando não estou testando um lançamento (você que acompanha o blog deve ter visto o aparelho dar as caras em diversos reviews).
O Galaxy S5 me mostrou a direção errada que o mercado tomou
Por se tratar de um dispositivo com tampa traseira removível, pude dá-lo uma nova vida apenas com a troca da bateria, e desde então não tenho do que reclamar.
Apesar de já ser um telefone bem antigo, ele continua exercendo todas as suas funções com competência, e desempenho muitas vezes melhor que o de alguns lançamentos recentes.
Para você ter uma ideia mais clara do que eu estou falando, dá só uma olhada no resultado que ele alcança no teste do Antutu, lado a lado com os principais intermediários de 2017:
Se você pensar que hoje é possível comprar um Galaxy S5 usado em bom estado por R$ 500, enquanto os “concorrentes” acima custam mais de R$ 1000, ele se torna um ótimo negócio. E isso mesmo que você compre uma bateria nova para obter o melhor de sua performance, como eu fiz.
Além disso, ele também vem me servindo como um belo parâmetro de comparação para os Androids recentes nos quesitos vida útil, conforto e resistência.
Pode me chamar de reacionário, eu não ligo. Mas por conta desse experimento, cheguei a conclusão de que os smartphones atuais “evoluíram” na direção errada, ao abdicarem das baterias removíveis que os permitiam expandir bastante o tempo de uso dos aparelhos, e do plástico emborrachado que oferecia leveza e excelente pegada, em prol do vidro que trinca com facilidade, e do alumínio que risca, amassa e entorta.
Ou seja, ele é um lembrete permanente de que ninguém precisa da última tecnologia lançada para ser feliz, e mais importante: um alerta de que nem sempre o mais novo é melhor. E olha que ainda nem falei da câmera!
A câmera continua excelente
Você pode estar pensando agora: “ah, mas o S5 está bem ultrapassado em relação às câmeras!”. Calma, não é bem assim.
Realmente ele é um modelo “pré-selfies” (ou seja, foi lançado antes dessa mania), e por isso não tem uma câmera frontal muito capaz.
Agora, se você, assim como eu, usa muito mais a câmera principal que a secundária, não há com o que se preocupar.
Quer exemplos? Então dá só uma olhada nessas fotos do meu último final de semana:
Fotos sem nenhum tipo de tratamento. Foram apenas reduzidas para publicação.As atualizações te forçam a comprar um celular novo
Agora olha que interessante: ao usar aplicativos populares (como o Facebook) no S5, percebi que a cada nova atualização os desenvolvedores estavam deteriorando mais e mais a experiência no smartphone, com engasgos e travadas surgindo a todo momento.
Resolvi remover a versão mais recente dos apps, trocando por suas versões anteriores mais estáveis no dispositivo, e desde então tenho usado estes mesmos apps com extrema velocidade e fluidez. Como eu já disse em outros artigos, o meu mantra tecnológico é: se está funcionando bem, não atualize.
Ou seja, temos um cenário atual maquiavélico, que levam as pessoas a trocarem de celular o tempo todo, seja pelas telas trincadas, baterias “coladas” que não podem ser trocadas e até estufam (descolando a tela dos aparelhos), ou ainda pelos softwares mal desenvolvidos que impedem que os usuários continuem usufruindo de seus celulares, mesmo que eles estejam em perfeitas condições.
Um band-aid para curar as feridas do mercado
Este ano eu testei durante algum tempo o Galaxy S8, o LG G6, o Xperia XZ Premium, o iPhone X e o Moto Z2 Force, e posso dizer que todos são excelentes dispositivos, cada um com suas virtudes e defeitos. Porém, nada me deixou mais feliz, do que ver meu “velho” S5 funcionando como novo.
Os meses foram passando, e a cada novo lançamento que testava eu fui percebendo o ciclo de inovações sem sentido em que nos metemos.
Encarei a tela Edge do S8 que no final das contas não serve para nada (a não ser distorcer os cantos), a câmera dupla do Z2 que pode ser facilmente substituída por uma câmera muito boa (Google Pixel 2 mandou um olá), o design super desconfortável do XZ Premium, a interface horrível do LG G6, e o design estranhíssimo do iPhone X.
Na minha opinião, o mercado precisa urgentemente rever seus conceitos, do contrário entraremos em ciclos cada vez menores de trocas de aparelhos, por motivos que fazem cada vez menos sentido.
Pare para pensar: imagine as toneladas de lixo eletrônico que a humanidade deixaria de produzir, se todos que compraram um Galaxy S5 em 2014 ainda estivessem com o aparelho. Isso sem falar das capinhas e películas, obrigatórias em tempos de design “premium“.