O Motorola One é o primeiro smartphone participante do programa Android One a chegar oficialmente no Brasil, e traz, além da proposta de atualizações mais rápidas, design completamente diferente dos demais dispositivos da marca, com forte inspiração no iPhone X.
Apesar do ar de novidade, o dispositivo conta com processador de 2016 e tela de resolução baixa para os padrões atuais, e tem preço inicial que pode ser um complicador na hora das comparações.
Como sempre, o único jeito de saber se um produto vale a pena ou não é testando-o no dia a dia, e foi por isso que eu passei as últimas semanas usando o Motorola One como meu celular principal. Vem comigo que eu te conto como foi a minha experiência!
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Atualização: a Motorola começou a liberar no Brasil a atualização do Motorola One para o Android 9 Pie. Desta forma, o modelo torna-se o segundo smartphone do país a receber a nova versão do sistema (o primeiro foi o Sony Xperia XZ2).Motorola One: preço e disponibilidade
Mesmo com todo o sex appeal do novo modelo, o bolso não mente: é muito difícil justificar o preço de lançamento do Motorola One.
Com a mesma grana, R$ 1.500, dá para comprar o Zenfone Max Pro (M1) da Asus, ou mesmo o Moto G6 Plus da própria Motorola, ambos com especificações superiores em diversos quesitos.
- Veja também: Review Motorola One Vision: clicando no escuro
E a coisa fica ainda mais difícil para o One se você pensar que, com apenas R$ 100 a mais, já é possível comprar o Galaxy A8 e o Moto Z3 Play, que pertencem à uma categoria bem mais premium de smartphone.
Resumindo, esse preço inicial do Motorola One não é adequado para a classe de dispositivos que ele representa, então você pode contar que irá cair um bocado nos próximos meses. Arrisco dizer que o valor mais justo para ele deveria circular em torno dos R$ 1.100.
Atualização: O preço do modelo já caiu para o patamar que eu recomendo acima, e por isso agora seus principais rivais são: LG K12 Plus, Moto G7 Play, Galaxy A20 e Galaxy M20.- Veja também: Review LG K12 Plus: proceda com cautela
Se você está precisando de um smartphone novo com urgência, e se interessou pelo modelo, é bom olhar a minha lista de prós e contras antes de colocar a mão no bolso.
Motorola One: prós e contras
Prós:
- Ótimo desempenho;
- Bateria dura bastante e carrega bem rápido;
- Design bonito e confortável;
- Bom áudio com os fones de ouvido;
- Bandeja permite 2 chips e cartão micro SD ao mesmo tempo.
Contras:
- Câmera dupla traseira fica abaixo da expectativa;
- Câmera frontal é terrível em ambientes internos ou com pouca luz;
- Tela de baixa resolução e visibilidade ruim sob o sol;
- Nenhuma proteção contra água ou poeira;
- Notch enorme e pouco otimizado.
Motorola One: unboxing
Motorola One: design
O Motorola One deixa de lado a identidade visual já tradicional dos smartphones da marca para adotar um visual mais retangular e com fortes influências da receita criada pelo iPhone X: câmera dupla traseira na vertical, recorte na tela (notch) e bordas cromadas.
Numa olhada rápida, só é possível distinguir o One do top da Apple através do leitor de impressão digital traseiro, discretamente posicionado na marca “M”, e do módulo da câmera, que não possui moldura unindo as duas lentes.
Falando nisso, as duas lentes são ligeiramente saltadas, mas a capinha que a Motorola envia com o aparelho neutraliza perfeitamente o relevo.
Não há como negar que o dispositivo ficou muito bonito e que ele certamente irá chamar atenção na roda de amigos, mas é importante destacar que ele não é tão premium quanto parece: a borda cromada na verdade é plástico pintado – e muito provavelmente irá descascar com o tempo de uso, há duas saídas de som na parte inferior, mas o som sai apenas por uma (a da direita), e não há nenhum isolamento contra água ou poeira.
Mas o aparelho também tem seus acertos; seu corpo é leve e relativamente compacto, oferecendo ótima pegada, a entrada padrão para fones de ouvido está presente, e a bandeja lateral para chips comporta 2 nano sims e 1 micro SD funcionando ao mesmo tempo.
Em termos de espessura, temos um modelo que não é nem muito fino, nem muito grosso, mas sim adequado para uma boa ergonomia. Aliás, a boa distribuição de peso também colabora.
No geral, trata-se de um smartphone que é bem gostoso de usar e de olhar, mas que poderia ter caprichado mais na questão da durabilidade.
Motorola One: tela
Escolher a tela do Motorola One deve ter sido uma das etapas mais difíceis do seu desenvolvimento. Afinal, optar por um painel com resolução Full HD+ iria encarecer o modelo e também exigir mais do chipset, impactando não só o desempenho como também a autonomia.
Por outro lado, optar por um painel de resolução mais baixa, HD+, manteria o custo acessível, daria mais fôlego para o processador e para a bateria, mas impactaria negativamente a experiência do usuário no quesito qualidade de imagem.
Entre a cruz e a espada, a Motorola optou pela segunda opção, colocando no dispositivo um display de qualidade inferior à dos demais concorrentes na mesma faixa de preço. Na minha opinião, ele só irá agradar os usuários menos exigentes.
O resultado é uma tela que está no limite do aceitável para um smartphone intermediário de 2018, com exibição de cor, contraste, brilho e ângulos de visão parecidos com os de um Moto G5S, só que com definição inferior. Olhando bem de pertinho, dá até pra ver os pixels. Veja:
Além disso, a visibilidade sob a luz do sol não é das melhores, e o recorte (notch) no topo do painel é enorme, deixando pouquíssimo espaço para os ícones de notificação. Por conta disso, na maior parte do tempo você vai ver um pontinho (.) que significa:
“Tem um monte de notificações te esperando aqui, só que a gente não consegue mostrar. Você comprou um celular com tela enorme, mas não consegue nem ver que app está notificando.”
Ou seja, faltou otimização de software para lidar com o notch. E olha que eu nem reclamei da falta de margem nos cantos (que me dá nervoso!).
O Zenfone 5 da Asus, por exemplo, não só possui um notch que ocupa bem menos espaço, como também soube trabalhar melhor o software para lidar com ele.
- Veja também: Review Zenfone 5 (2018): aprendendo para melhorar
Motorola One: câmeras
As câmeras de celulares Motorola nunca foram dignas de prêmio, mas nos últimos anos elas melhoraram um bocado. Hoje em dia, mesmo nos dispositivos mais acessíveis a marca oferece uma experiência fotográfica bem bacana. Infelizmente, esse não é o caso do Motorola One.
Atualização: O Google Camera já está disponível para o Motorola One! Ele melhora bastante os resultados fotográficos do aparelho, e ainda conta com o recurso Night Sight (visão noturna).Depois de muitas fotos tiradas, posso dizer que o aparelho é um ponto fora da curva não só no design, mas também no padrão de qualidade das câmeras, ficando abaixo do Moto G6 Plus e até do Moto X4 em algumas situações.
Para ficar claro, a câmera dupla do Moto X4 de 2017 possui lente secundária grande angular que permite capturas amplas e de boa qualidade, enquanto a lente secundária de apenas 2 MP do Motorola One só serve para gerar o efeito de fundo desfocado, e mais nada.
Em condições de muita luz é possível obter imagens satisfatórias com a câmera traseira do modelo, porém logo nos primeiros cliques eu notei uma certa dificuldade dos sensores em acertar a tonalidade das cores das cenas, e também alguma lentidão na hora de processar imagens.
Vamos aos exemplos:
Para deixar claro o que eu disse anteriormente sobre acertar a tonalidade das cores, observe essas duas fotos que tirei da Biblioteca Nacional no mesmo dia, local e horário (com diferença de apenas alguns segundos):
Se ainda não estava claro, agora ficou, né?
Prosseguindo com os testes, resolvi capturar a mesma planta com e sem o Modo Retrato ativado, para comparar principalmente a definição do primeiro plano.
Como você pode ver, a flor em destaque está muito definida na foto “normal”, mas no Modo Retrato ela perde boa parte dessa definição. Pelo menos a separação com o fundo desfocado não é tão artificial.
Mas é nas fotos em ambientes mais escuros que a câmera traseira do Motorola One mostra toda sua limitação.
Em ambientes internos há uma perda enorme de detalhes, e o pós processamento mais atrapalha do que ajuda. Quanto mais escura for a cena, mais o pós processamento irá transformá-la numa pintura impressionista.
Nas duas fotos a seguir, uma situação inusitada: a primeira mostra o lado da capela que não recebe luz exterior (esquerdo), e a segunda mostra o lado que recebe (direito).
Por incrível que pareça, a foto com melhor iluminação foi a que ficou pior, com vários detalhes perdidos, e cores completamente alteradas.
Mas calma, tem mais. Fui tentar fotografar as luzes de Natal de um shopping, e o resultado foi tão ruim, que nem precisei borrar a placa do carro que aparece na foto:
Sério, recomendo fortemente que você veja a imagem acima em tamanho real (link a seguir) para entender perfeitamente o que quero dizer com “pintura impressionista”.
No caso das selfies, os resultados são satisfatórios tanto no Modo Automático quanto no Modo Retrato (desde que haja boa iluminação), mas eu achei que o Modo Retrato tira um pouco da saturação. Nada muito grave. Veja:
Agora, se você gosta de tirar selfies no interior de bares e restaurantes, ou mesmo numa balada, é melhor procurar outro celular, pois nem o flash frontal salva.
- Veja também: Review Motorola One Zoom: parece top, mas não é
Caso queira visualizar as fotos em tamanho original, baixe este arquivo zip.
Motorola One: desempenho
Apesar de vir equipado com um chipset antigo (o Snapdragon 625, de 2016) e apresentar pontuação inferior à dos principais concorrentes nos testes de benchmark, o Motorola One se mostrou um celular muito veloz nas tarefas do dia a dia.
Eu não tive do que reclamar: o aparelho abre e alterna aplicativos de forma muito rápida, não travou ou engasgou comigo em nenhum momento, exibe animações de interface e rolagem de telas com muita fluidez, e só esquenta com games muito pesados ou navegação GPS intensa.
Como eu disse anteriormente, a escolha por uma tela de resolução mais baixa facilitou a vida do processador e da GPU, permitindo a boa performance.
Com games ele também se sai bem, mas é aí que a discrepância na pontuação acima mostra a sua cara. Nos dispositivos equipados com Snapdragon 636, como o Zenfone Max Pro, a performance gráfica é consideravelmente superior, permitindo até que alguns títulos rodem na qualidade máxima com boa taxa de quadros. No Motorola One você só terá boa taxa de quadros na qualidade padrão.
Ah, e antes de encerrar este item, é importante registrar que, mesmo sendo um Android One, o Motorola One traz a excelente Moto Tela e outros recursos de software da Motorola, como o gesto para abrir a câmera.
Motorola One: bateria
Smartphones equipados com o chipset Snapdragon 625 costumam mandar muito bem nesse quesito, e o Motorola One não é exceção. Ele é ótimo tanto na duração da bateria quanto na velocidade de carregamento.
Durante minhas semanas de uso, cheguei a ter 2 dias inteiros sem precisar recarregar o aparelho, e mesmo no final dos dias mais intensos, chegava em casa com mais de 40% de carga.
Ainda assim, é importante dizer que um de seus principais concorrentes, o Asus Zenfone Max Pro, é ainda melhor nesse quesito, chegando a oferecer 3 dias longe da tomada com seus 5000 mAh de capacidade.
Motorola One: som
Ao contrário dos Moto G e Z, o Motorola One não traz seu alto falante principal integrado no alto falante de ligações, na parte frontal, e sim na parte inferior do dispositivo. Além da posição não ser tão boa quanto a dos demais modelos, a qualidade do áudio também não está no mesmo nível.
O volume é alto, porém não tão encorpado quanto nos Moto G e Z, e pode-se notar alguma distorção no nível máximo, dependendo da música.
Os fones de ouvido que acompanham o modelo são os mesmos que vêm com os aparelhos da linha Z, então você pode esperar por uma experiência bem mais agradável nos seus ouvidos. Até porque o sistema Dolby que vem incorporado no Android do One faz um belo trabalho em conjunto com o acessório, permitindo muitas possibilidades de equalização, e consequentemente, mais conforto para sua audição.
Motorola One: ficha técnica
- Android 8.1 Oreo (com atualização para Android 9 Pie);
- 4G Dual Chip (2 nano sim);
- Tela IPS 19:9 HD+ de 5,9 polegadas (1440 x 720 px);
- Chipset Snapdragon 625 octa core 2.0 GHz;
- GPU Adreno 506;
- 4 GB de RAM;
- 64 GB de armazenamento interno;
- Entrada para micro SD de até 256 GB;
- Câmera traseira dupla – 13 MP f/2.0 + 2 MP f/2.4, com PDAF e flash;
- Câmera frontal de 8 MP f/2.2 com flash;
- Gravação de vídeo em 4K à 30 fps;
- Bluetooth 4.1;
- Localização GPS, A-GPS, GLONASS e BDS;
- Sensores: acelerômetro, giroscópio, proximidade, bússola;
- Rádio FM;
- NFC;
- USB Tipo C;
- Bateria de 3000 mAh com carregamento turbo.
Motorola One: vale a pena?
O Motorola One é um smartphone que agrada bastante na beleza e conforto de uso, mas que peca na qualidade da tela e das câmeras.
Se você faz questão de uma tela grande e de excelente qualidade, o Galaxy A6+ é uma opção mais interessante, e no quesito câmeras, certamente o Redmi Note 5 da Xiaomi irá agradar mais. Não quer um importado? Vá de Moto G6 Plus.
Em termos de desempenho de hardware o Motorola One é bastante satisfatório, mas ele pode não envelhecer tão bem quanto o Asus Zenfone Max Pro, que conta com chipset mais atual.
No final das contas, na minha opinião o maior problema do One é seu preço. Se ele custasse até R$ 1.200, seria um aparelho recomendável para a maioria dos usuários, mas por R$ 1.500 fica difícil defendê-lo frente a tantos modelos competentes disponíveis pelo mesmo valor.
O Moto Z3 Play foi lançado por R$ 2.299 e já caiu para R$ 1.699, então é possível que o One também tenha uma queda de preço nos próximos meses.
Sendo assim, se você ficou apaixonad@ pelo modelo, minha dica é: espere.
Meu veredito baseado no preço atual do produto é:
Ainda não conhece a escala memética de avaliação do Mobizoo? Então veja como fazemos nossas análises de celular.
Deixo o meu agradecimento à assessoria da Motorola, que gentilmente emprestou o celular utilizado nesta análise.