Na semana passada nós publicamos aqui no site um artigo explicativo sobre o Programa Seja Digital, que dá kits gratuitos de TV Digital para quem participa de programas sociais do governo (como o Bolsa Família), mas hoje eu quero me aprofundar um pouco mais no tema, propondo uma reflexão sobre quais seriam as reais motivações por trás da iniciativa.
Por que raios o governo acha tão importante que todo brasileiro tenha acesso à TV Digital? E por que mais de 2 bilhões de reais estão sendo gastos com a distribuição de equipamentos, propagandas, ações educacionais, e até promoções?
É isso que vou tentar responder.
Ninguém merece ficar sem TV?
Pois é, esse é um dos principais slogans do programa criado por determinação da Anatel para levar a TV Digital para todo o Brasil, que já de cara coloca uma interrogação na minha cabeça: como assim é um absurdo alguém ficar sem TV aberta, com tanta coisa mais importante para ser resolvida no Brasil?
Ao pé da letra, trata-se de um novo braço do Estado criado especialmente para tirar o país do jurássico sistema analógico de transmissão de TV, mas se olharmos mais de perto, descobrimos uma forma muito “esperta” que o governo criou para “investir” o seu (nosso) dinheiro.
Abaixo está a definição retirada do site oficial do programa:
A Seja Digital (EAD – Entidade Administradora da Digitalização de Canais TV e RTV) é uma instituição não-governamental e sem fins lucrativos, responsável por operacionalizar a migração do sinal analógico para o sinal digital da televisão no Brasil. Criada por determinação da Anatel, tem como missão garantir que a população tenha acesso à TV Digital, oferecendo suporte didático, desenvolvendo campanhas de comunicação e mobilização social e distribuindo kits para TV digital para as famílias cadastradas em programas sociais do Governo Federal. Também tem como objetivos aferir a adoção do sinal de TV digital, remanejar os canais nas frequências e garantir a convivência sem interferência dos sinais da TV e 4G após o desligamento do sinal analógico. Esse processo teve início em abril de 2015 e, de acordo com cronograma definido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, mais de 1300 municípios terão o sinal analógico desligado até 2018.
Tudo muito bom na teoria, se não fosse um pequeno detalhe: tudo isso custa muito, mas muito dinheiro!
Para você ter uma ideia, cada kit distribuído tem um custo médio de R$ 100, e até o final de 2018 mais de 14 milhões serão entregues, totalizando um gasto aproximado de mais de 1.4 bilhões de reais!
E calma que a sangria de dinheiro ainda não acabou: ainda temos todo o custo com propagandas de TV, ônibus, bancas de jornal e outdoors (que não são baratas), treinamentos técnicos e ações educacionais com a população, e para fechar com chave de ouro, um montão de sorteios de valores na promoção “Instalação Premiada”:
Ou seja, pode colocar nessa conta aí mais de 2 bilhões gastos para que ninguém fique sem TV, quando o sinal analógico for desligado.
Um negócio da China!
“Mas Anderson, isso está beneficiando a população!” Você deve estar pensando.
Ok, em parte isso é verdade, especialmente se esquecermos completamente o fato de que esse dinheiro poderia estar sendo investido em coisas que realmente fazem sentido para um país miserável como o nosso, como Saúde e Educação. Lembra do “país rico é país sem miséria” e do “pátria educadora”?
Poderia ser apenas uma questão prioridades, se não fosse um detalhe muito importante: com o sinal analógico desligado em todo Brasil, muitas pessoas (principalmente as mais carentes) irão ficar sem TV, e consequentemente não poderão assistir à propaganda eleitoral obrigatória para as eleições de 2018.
Imagina só que prejuízo para os partidos, que aliás agora vão ter mais dinheiro para fazer propagandas bacanas com os melhores “marketeiros” do mercado?
E você achando que o governo estava preocupado com a qualidade do seu sinal, ou mesmo com a perda de programas importantes para a difusão do conhecimento, como o do Celso Portiolli.