Notebooks, os primeiros dispositivos móveis, esses computadores portáteis que já foram sinônimo de futuro, hoje parecem verdadeiras peças de museu. Esquecidos pelo consumo de massa num mundo tomado por smartphones, e negligenciados pelas próprias fabricantes.
É mais que sabido que os smartphones, já há algum tempo, tornaram-se “a primeira tela” na vida de qualquer ser humano. Eles hoje são mais importantes que a TV, e que qualquer computador em nosso cotidiano. Neles convergem a nossa diversão, nossas interações sociais, muito de nosso trabalho e nosso consumo de produtos e serviços.
Nesta revolução, muitos dispositivos morreram (tocadores de música, câmera digital compacta, etc.), e outros estão até hoje tentando se reencontrar com o público, como é o caso dos notebooks.
A “porrada” nos notebooks foi tão forte, que ano após ano ele segue em queda nas vendas e na relevância. Ele, juntamente com desktops e tablets compõe o segmento de mercado com maior retração nos últimos anos, segundo a Abinee.
Mas não dá para resumir essa história simplesmente dizendo que o “trator” dos smartphones passou por cima de todo mundo. Há muitos outros fatores envolvidos, e o principal deles, na minha opinião, é a pouca (ou quase nenhuma) inovação que os computadores, especialmente os portáteis receberam nos últimos anos.
Parece que a indústria inteira focou todos os seus esforços em abocanhar uma fatia do mercado de celulares, deixando para outra hora a evolução tecnológica dos notebooks.
O notebook continua tendo seu espaço
Muito se falou nos últimos anos sobre uma possível canibalização do mercado de notebooks por conta do surgimento dos netbooks (lembra?), um pouco depois dos tablets, e mais recentemente dos híbridos (tablets que “viram” notebooks, e vice-versa).
Mas não adianta: muitas tarefas são ergonomicamente inviáveis nesses dispositivos, e no final das contas o notebook continua sendo o aparelho portátil ideal para trabalhar.
Por isso pessoas e empresas continuam comprando notebooks, mesmo que eles estejam muito abaixo do potencial tecnológico que deveriam ostentar, em pleno 2017.
O que há de errado com os notebooks de hoje?
Antes de responder a esta pergunta, quero deixar claro que, neste tópico, estarei me referindo ao “notebooks de massa”. Aqueles que estão em todas as lojas do varejo físico e online, que são comprados em grandes volumes pelas empresas, e cujos preços transitam entre os R$ 1.500 e R$ 2.500.
Dito isso, vamos ao principais pontos fracos destes aparelhos.
Tela
Olhe para a tela do seu smartphone. Agora, olhe para a tela do seu notebook. Em qual delas a imagem é de pior qualidade? Essa está fácil, né?
Pois é. Enquanto até smartphones abaixo de R$ 1.000 já contam com telas IPS com resolução Full HD, notebooks acima dos R$ 2.000 continuam com as ultrapassadas telas TFT com resolução 1366 x 768.
Além de terem péssima definição, telas deste tipo contam com ângulos de visão extremamente limitados, e um contraste tão ruim quanto daqueles “projetores de reunião” numa sala ensolarada.
Eu mesmo, no mês passado, precisei comprar um notebook para minha esposa (que é fotógrafa), e tive dificuldade imensa de encontrar modelos com uma tela minimamente “decente”.
A saída mais óbvia – comprar um Macbook Retina usado – foi descartada logo de cara, já que ela não se dá bem com o sistema MacOS, e nem com o teclado dos Macs.
Nesse processo, descobri que os pouquíssimos notebooks com telas IPS Full HD disponíveis no mercado brasileiro (que deveriam ser padrão hoje em dia!), são extremamente caros.
Felizmente, a Samsung lançou recentemente um modelo com tela Full HD e preço bastante atraente (custa em torno de R$ 1.700) – o Essentials E34.
Ainda não é um painel IPS (que melhora muito brilho, contraste e ângulos de visão), mas já coloca uma bela pressão nas concorrentes para elevação de nível nesse quesito tão básico.
Memória pra quê?
Além das telas precárias, há outro item importantíssimo que me incomoda bastante nos modelos de notebook disponíveis nas lojas brasileiras: as memórias pífias.
E eu não estou falando só de memória RAM, não. Estou me referindo também aos ultrapassados HDs de 500 GB e 1 TB que predominam nos modelos atuais. Sério, gente. Disco rígido! Em pleno 2017?
Quem já testou um computador que possui SSD no lugar de um HD sabe que a diferença de performance é brutal. O sistema inicia quase que instantaneamente, e os aplicativos carregam muito mais rápido que nos discos rígidos tradicionais (até 20x mais rápido), e até as transferências de arquivos voam.
O detalhe é que os SSDs baratearam bastante nos últimos anos, e portanto já deveriam estar inclusos por padrão nos notebooks vendidos por aqui.
Nos EUA, por exemplo, notebooks com SSD de 256 GB já são bem comuns em grandes lojas, enquanto por aqui são bem difíceis de encontrar.
Voltando para a memória RAM, alguém sabe me dizer por que raios as fabricantes estão há anos estacionadas nos 4 GB aqui no Brasil?
Tem até notebook de R$ 2.500 sendo vendido com essa quantidade de memória. Triste.
Poucas evoluções para poucos
Mas então, como eu posso adquirir um notebook com tela impecável e memórias de primeira linha? Com muito dinheiro.
Sim, atualmente, para comprar um computador com tela IPS de alta densidade de pixels, armazenamento SSD de boa capacidade e memória RAM acima dos 8 GB, você vai ter que desembolsar, pelo menos, mais de R$ 5.000.
E, na boa, estas estão longe de ser configurações “de outro mundo”, e simplesmente não justificam o valor.
Estamos nos aproximando de 2020, e os notebooks “de massa” já deveriam estar em outro nível de desenvolvimento, com telas OLED de alta definição, carregamento rápido, baterias com um dia inteiro de duração, e mais uma porção de inovações que simplesmente não aconteceram.
Mesmo para quem pode pagar, os notebooks mais avançados de hoje estão mais para 2005 do que para 2025.