Há poucas mulheres na tecnologia, e a culpa é nossa

Por mais que números recentes apontem para o crescimento da participação das mulheres na tecnologia, a presença delas ainda é bem tímida se comparada com a dos homens. Toda a cadeia tech, desde a engenharia até o jornalismo especializado, ainda é majoritariamente masculina, e isso é reflexo de um senso comum quase que inconsciente, que determina que mulheres não gostam de tecnologia, ou que gostam menos do que os homens.

Mulheres na tecnologia: o triste cenário atual - Mobizoo
Booth babes, modelos utilizadas pelas marcas nos estandes de grandes eventos para atrair a atenção dos homens. Felizmente são cada vez mais raras.

Mulheres na tecnologia: o triste cenário atual

Estamos em 2018, e mesmo assim, o setor de tecnologia, um dos mais cobiçados para se trabalhar, ainda é majoritariamente dominado por homens. Mesmo em gigantes da área como Google, Apple e Facebook, as mulheres ainda não são nem um terço do total de funcionários. Dentre as que trabalham diretamente com tecnologia (programação, etc.), a taxa cai para 17%.

Apenas 8% dos desenvolvedores de todo o mundo e 11% dos cargos executivos das empresas de tecnologia no Vale do Silício são ocupados por mulheres, de acordo com dados apresentados no seminário Women 4 Tech dentro do MWC 2018.

E no Brasil não é muito diferente. Segundo dados do IBGE, apenas 20% dos profissionais que atuam no mercado de Tecnologia da Informação (TI) são mulheres.

Eu mesmo, durante o MWC 2018, notei a esmagadora maioria de homens circulando pelos pavilhões, nos estantes, na sala de imprensa e até nas salas restritas para executivos. Para minha surpresa, apenas nos espaços dedicados às empresas chinesas, a maioria era de mulheres. E eu estou falando de representantes comerciais ou de marketing, e não de modelos.

A Emily Canto Nunes, do site ada.vc descreve o cenário do MWC neste post melhor do que eu.

Mas, por que temos esse cenário? Bom, não é fácil responder essa pergunta, já que temos muitas conjunturas culturais e econômicas envolvidas, mas, pelo menos para o nosso contexto local, eu tenho alguns palpites.

Celular de tia - Mobizoo
Mea culpa: eu já achei graça de coisas assim.

Celular de tia

Uma das figuras mais sacaneadas pelos homens que participam em fóruns e grupos focados em tecnologia no Facebook, Whatsapp e similares é a tia. Sim, aquela que todo mundo tem na família.

Seja por ela ser leiga no assunto e cair em papo de vendedor de loja física, levando para casa um Galaxy J7 Prime achando que é topo de linha, ou por instalar um monte de lixo em seu aparelho, ou mesmo por ter uma capinha toda de oncinha com “frufrus” saltitantes.

De forma consciente ou inconsciente, o que esse exército de homens faz a cada postagem, é uma diminuição da figura feminina no meio da tecnologia, e uma exaltação da superioridade masculina no meio.

Mãaaas (como dia a Camila), por incrível que pareça, isso ainda não é o pior.

Jornalismo Machista

Mesmo jornalistas, que deveriam trabalhar para mudar esse cenário, por serem formadores de opinião, muitas vezes reforçam discursos sexistas, especialmente quando se referem às colegas de forma pejorativa, ou deixam de lado as ações e ideias apresentadas por mulheres, para focarem em atributos físicos (seja elogiando ou “detonando”).

Talvez eles não percebam (talvez sim), mas isso inibe a entrada de novas profissionais no ramo de tal forma, que resulta numa quantidade ínfima de jornalistas e criadoras de conteúdo tech atuando no Brasil. Dá para contar nos dedos quem são elas.

E tem mais: alguns grandes veículos de tecnologia criam linhas editoriais específicas para o público feminino, com “linguagem descomplicada” e “amigável para as mulheres”. Acho que você já entendeu o meu ponto.

Por enquanto a gente ainda precisa de coisas como esta série de entrevistas com mulheres na tecnologia (que aliás só tem 3 vídeos), mas o ideal era que não precisasse.

A questão da educação

Você já reparou que as meninas não são estimuladas pelos pais a aprenderem coisas relacionadas à tecnologia desde cedo?

Pois é, enquanto garotos brincam com suas naves espaciais, carros futuristas, videogames de última geração e até aprendem programação, as meninas brincam de princesa, de cozinhar, e fazer compras no supermercado e cuidar de bebês.

De um lado temos futuros homens que não saberão cuidar de seus filhos, lavar suas próprias roupas ou mesmo fazer feira, e do outro teremos meninas que dependerão dos homens para configurarem seus eletrônicos, e que muito dificilmente terão interesse na área de programação, por exemplo. Pergunto: é isso que você quer?

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Anderson Mansera

Especialista em Tecnologia e Design com mais de 20 anos de experiência no mercado de produtos eletrônicos e soluções digitais, com participação em eventos internacionais e projetos para grandes empresas. Retrogamer e tecladista nas horas vagas.

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